top of page

O argumento cosmológico para a existência de Deus

"O fato de que tanto teístas quanto ateus não conseguem deixar o argumento cosmológico quieto sugere que possa ser um argumento de interesse filosófico anormal ou tem um núcleo atraente de plausibilidade que faz com que os filósofos voltem para ele e o examinem novamente."

Quentin Smith

Eu comecei minha paixão em filosofia da religião com os argumentos racionais para a existência de um Deus pessoal. Com o passar dos últimos quatro anos, posso dizer que meus interesses migraram fortemente. Acredito que à medida que você vai estudando na área, outras questões criam uma atração muito maior ao teísmo do que meros argumentos lógicos. Porém, esse assunto é praticamente o fundamento sobre o qual a filosofia da religião contemporânea foi fundada e, se nada mais, tem uma importância histórica inegável. Além disso, se os argumentos de fato funcionam, eles podem servir para memoráveis debates entre aqueles que crêem em Deus e aqueles que não crêem.

Antes de entrarmos de cabeça no primeiro argumento, alguns avisos são importantes:

1. Entre os filósofos da religião teístas hoje, existe acordo unânime de que um argumento sozinho não é suficiente para sustentar uma crença justificada em Deus. São todos os argumentos combinados que criam uma boa defesa para essa crença, o que é chamado de 'defesa cumulativa' para a existência de Deus.

2. É de extrema importância que exista respeito mútuo entre as pessoas envolvidas em debates onde este tipo de argumento possa aparecer. "Só sei que nada sei," apesar de exagerada, é a melhor máxima nestas circunstâncias. Ouvir para entender, não somente ouvir para responder.

Agora sim! Ao argumento...

O argumento cosmológico existe desde a era medieval e provavelmente sua primeira elaboração formal foi por Tomás de Aquino. Desde então, muitas versões foram elaboradas e, obviamente, não poderemos destrinchar todas aqui. Porém, basta saber que todos os argumentos cosmológicos começam com a premissa da existência de seres contingentes.

Peraê!

O que é um ser contingente? Um ser contingente é um que poderia não ter existido, mas que existe. Pense em você mesmo! Sua existência não é necessária. Existe uma versão da história que sua mamãe e seu papai preferiram assistir TV em vez de, erm...te produzir, e que não tivesse sido a sua cabeça que o médico puxou para fora da barriga da sua mãe!

Portanto, você é um ser contingente.

De acordo com o argumento cosmológico, toda a existência contingente requer uma explicação. A explicação da sua existência já é bem clara...seus pais. A explicação da existência de uma árvore é uma semente. E assim vai. Agora, se considerarmos o universo como um ser contingente (já que ele engloba todos os outros seres contingentes), ele portanto deve ter uma causa, uma explicação para a sua existência.

Falar que o universo é sua própria causa é absurdo, pois a causa deve ser exterior ao ser contingente e deve ser uma causa necessária.

Peraê!

O que é um ser/causa necessário (a)? É uma causa que não poderia deixar de existir. Ela existe por uma necessidade de sua própria natureza.

Então, seguindo o argumento, a conclusão apontaria para Deus como o único ser necessário (não-contingente) que é o criador de todas as contingências. Vamos seguir o argumento em sua forma lógica, lembrando que essa é a forma mais simples do argumento cosmológico:

1. A existência de um universo contingente exige uma explicação necessária.

2. Deus é um ser necessário.

Portanto, Deus é a explicação da existência do universo.

Outra versão do argumento, feito famoso pelo filósofo cristão William Lane Craig, é o argumento cosmológico kalam. O argumento kalam tem como primeira premissa a impossibilidade de o universo ser infinito. Conseguindo dar evidências que o universo não pode ser infinito, o argumento então aponta para Deus como o causador primário do universo. Como eu fico tonta só em pensar em séries infinitas e os exemplos usados para desprová-las, vou deixar que vocês leiam por si mesmos!

Como eu disse bem no início, o argumento cosmológico por si só não consegue entregar de bandeja um Deus pessoal e moral. O Dr. Craig faz alguns malabarismos para que isso ocorra, mas não acredito que ele seja bem-sucedido em fazê-lo. Para isso, outros argumento são necessários. E é isso que vamos continuar vendo. Além disso, existem críticas contundentes contra o argumento cosmológico que quem sabe um dia eu escreva a respeito.

Enquanto isso, continue sendo esse ser contingente estudioso e existente que você é. Já que poderíamos não ter existido, vamos aproveitar o fato que existimos para analisar nossa vida com destreza.

Leia mais:

Alexander Pruss e Richard Gale, "Cosmological and Design Argumentos" em The Oxford Handbook of Philosophy of Religion

William Craig, "The Kalam Argumento" em Debating Christian Theism

Marina Garner, "Argumento Cosmológico" http://noticias.adventistas.org/pt/coluna/luiz-gustavo/argumento-cosmologico-ton/ (bem curto, mas fácil de assimilar)

Francis Beckwith, William Craig e J.P. Moreland, Ensaios Apologéticos.

Featured Review
Tag Cloud
bottom of page