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João Scotus Erigena -- O Cara que Salvou a Filosofia na Época Monástica

Para a minha alegria, o semestre terminou!

Completei meu primeiro ano de doutorado e posso dizer com toda a certeza que aprendi muito mais do que imaginava. Apesar de uma das alegrias advindas disso ser a de que terei mais tempo para dedicar ao blog, confesso que fico mais feliz por não ter que escrever monografias pelos próximos três meses!

O filósofo que conheceremos hoje foi o intelectual Irlandês mais importante da época monástica. Suas obras foram umas das únicas que sobreviveram o período entre Boécio (6o século) e Anselmo (11o século)! É muito tempo sem filosofia...

Esse cara só conseguiu desenvolver a filosofia que desenvolveu por um fator importantíssimo: ele aprendeu grego! A educação da língua grega caiu em desuso entre o sexto e oitavo século e isso custou o conhecimento da filosofia a praticamente toda a Europa, já que (como vocês já sabem) a filosofia grega foi a base de toda a história da filosofia ocidental.

Erigena é universalmente reconhecido como tendo escrito o primeiro sistema completo de filosofia da Idade Média, o que é absolutamente INCRÍVEL levando em consideração a pouquíssima quantidade de material à sua disposição. Erigena também foi quem traduziu os escritos de alguns Pais da Igreja Cristã para o latim. Essas traduções tiveram uma influência incalculável para o Cristianismo dos seis séculos seguintes (não de uma forma tão positiva, como iremos ver).

Vamos voltar para o sistema filosófico dele. Erigena achava que o objetivo da filosofia é simplesmente prover uma interpretação racional da revelação. Ele não via a filosofia e a teologia como tendo objetivos diferentes, mas sim que "a verdadeira religião é a verdadeira filosofia." A razão, então, para Erigena, tem um papel importantíssimo na compreensão da Bíblia. Mas, de acordo com ele, a razão e a autoridade bíblica e da Igreja nunca entram em conflito. É claro que isso significa que Erigena fazia uns malabarismos para que a revelação se adequasse a seu próprio raciocínio lógico...

Por causa de seu acesso a livros apócrifos neo-platônicos (como o Pseudo-Dionísio, que era considerados praticamente canônico no tempo de Erigena), ele acaba pendendo perigosamente para o panteísmo (ideia que Deus está na criação ou que a criação emana diretamente de Deus) e para a ideia neo-platônica de que, no final, toda a fragmentação da natureza irá retornar para a mesma unidade no Deus absoluto. Essas ideias são extremamente problemáticas para um cristão que acredita na transcendência de Deus e na doutrina imortalidade individual no céu.

Uma das ideias mais interessantes que Erigena levanta, inspirado pelos escritos neo-platônicos, é de que Deus está acima e além de todas as categorias da existência e do pensamento. Descrever a Deus, para Erigena, é limitá-lo. Como podemos usar palavras e conceitos tirados de nossa própria experiência finita e terrena para descrever um ser infinito e transcendente? Essa ideia continuará fascinando e confundindo filósofos da religião até o século 20!!

A solução de Erigena para esse problema é o uso tanto de teologia afirmativa quanto teologia negativa. Em outras palavras, quando afirmamos, por exemplo, "Deus é bom", nós precisamos manter em mente que nossa noção humana de bondade não é adequada para Deus então precisamos imediatamente acrescentar: "Deus não é bom" (no sentido de que Sua bondade não é como a bondade humana). Erigena logo viu que essa solução era problemática, já que pessoas poderiam levar a frase negativa literalmente. Então, sua solução final foi a de falar sobre Deus apenas de forma superlativa: Deus é Superbom, Supersábio, etc. Essas ideias de que Deus não pode ser apreendido intelectualmente e que, portanto, deve ser conhecido através da experiência eventualmente levaram João Scotus Erigena a ser a maior influência sobre o misticismo cristão assim como algumas heresias do século 12 e 13.

Apesar de Erigena se considerar um cristão ortodoxo e tradicional, citando pais da igreja e a Bíblia frequentemente, o coitado teve seus livros queimados por serem considerados heresias panteístas em 1225 pelo Papa Honório III. De qualquer forma, suas ideias eram minuciosamente bem-pensadas e até mesmo prevêem algumas teorias filosóficas de Kant e Hegel.

Leia mais:

John Scotus, On The Division of Nature.

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