A Filosofia do Amor--Parte 2
É oficial. Hoje terminei a minha última monografia da fase de aulas do meu doutorado. Como muitos sabem, aqui nos EUA são dois anos de aulas seguido de três anos de provas e escrita da dissertação. Então, como eu "acabei de acabar" o meu segundo ano de classes, não entrarei mais em uma sala de aula como aluna! Preciso dizer que a sensação é incrível (por mais que eu ame ser aluna)!
Mas, enfim. Voltemos ao assunto do dia: filosofia do amor.
Como eu disse para vocês no post anterior, a filosofia do amor é uma área fascinante da filosofia analítica em que tive a oportunidade de mergulhar de cabeça esse semestre. E eu terminei aquele post levantando duas perguntas que fazem a combinação da filosofia do amor e a filosofia da religião: como entender o conceito do amor ao próximo e como entender o conceito do amor de Deus dentro dos limites da filosofia analítica?
Eu fiquei tão intrigada com esta última pergunta que escrevi minha última monografia para a classe exatamente tentando respondê-la.
É claro que aqueles que estão mais interessados na análise bíblica dessa resposta vão achar a análise filosófica um pouco insatisfatória. Mas como eu já argumentei por aqui, acredito que esses dois estudos deveriam estar mais interrelacionados do que estão atualmente, e foi isso que tentei fazer no trabalho.
Naquele post eu sugeri duas teorias: a teoria das qualidades e a teoria dos relacionamentos. Você pode reler o post pra saber porque eu acho que nenhuma das duas se encaixa no caso do amor de Deus. Então qual foi a teoria que eu defendi no meu trabalho?
A teoria do amor como projeção de valor.
A pessoa que desenvolveu essa teoria é um filósofo chamado Harry Frankfurt, alguém que eu já tinha lido sobre o assunto do livre arbítrio (é o material mais famoso que ele já escreveu). Mas ele também tem um livro chamado Reasons for Love (Razões para o Amor) onde ele expõe suas ideias.
Bem resumidamente, a ideia de Frankfurt é que qualquer motivo que tenhamos para amar não é satisfatório e acaba sofrendo diversos contra-argumentos (veja exemplos no meu último post). Por isso, ele acredita que não existem razões para amar, mas que o amor é um ato voluntário que emerge da nossa simples vontade de amar. Por isso, ele conclui, o amor não é a resposta que damos para certos valores que percebemos em outras pessoas (como sua personalidade amistosa, seu bom humor, ou até mesmo o fato de que a pessoa é da minha família), mas nós 'transferimos' valor às pessoas que nós escolhemos amar. Elas tem valor porque nós as amamos. O exemplo máximo que Frankfurt dá para essa teoria é o amor entre pais e filhos recém nascidos. Ele diria que não existe nenhuma razão para você amar aquela criança (ela ainda não demonstrou qualquer qualidade que os pais julgariam merecedora do amor e eles nem tem um histórico juntos).
Eu não sei se esta é a melhor teoria para entender o amor entre seres humanos (principalmente romântico), mas certamente me parece ser o caso do amor de Deus. Está explícito entre os autores bíblicos que não existe nada em nós seres humanos que nos faz merecedores do amor divino, nem mesmo o fato de sermos criação dEle parece ser suficiente para que esse amor seja necessário. Mas entender o amor como um ato voluntário e que, com a presença desse amor, o objeto amado passa a ter valor e mérito por causa desse amor me parece estar em muito mais harmonia com o relato bíblico do que as outras teorias.
O que vocês acham?