Anselmo -- O pai do argumento ontológico
O período da era Medieval mais intelectualmente sofisticado foi entre o ano 1000 e final dos 1200. Foi nessa época que as instituições, a arte, a arquitetura (a maioria das lindíssimas igrejas europeias surgiram nessa época), a música, a literatura e os costumes se desenvolveram de forma magnífica.
Com a filosofia não foi diferente! Devido ao boom nas universidades europeias, filósofos talentosíssimos surgiram por todos os lados. Um dos motivos para a filosofia cristã ser a mais popular é que, durante a seca intelectual do início da era medieval, foram os mosteiros que mantiveram a cultura intelectual do ocidente.
É nesta época então que surge os escolasticismo, que é basicamente o projeto intelectual de integrar a fé e a razão. Se você quiser saber mais a respeito desta controvérsia da era medieval, leia aqui.
Anselmo (1033-1109) foi um típico filósofo e teólogo escolástico. É perfeito que chegamos a ele na nossa peregrinação pela história da filosofia da religião já que recém postei a respeito de seu importantíssimo argumento ontológico para a existência de Deus aqui. Como a contribuição mais conhecida dele já está explicado nesse link, vou usar esse espaço somente para você conhecê-lo melhor e saber de outras de suas ideias.
Anselmo, depois de passar alguns anos como monge em um mosteiro na Itália, foi nomeado Arcebispo de Canterbury. Ele fielmente serviu nessa função (apesar de preferir a tranquilidade do mosteiro) até sua morte e foi canonizado como santo em 1494.
O objetivo de Anselmo era prover argumentos conclusivos para demonstrar racionalmente os ensinamentos cristãos em que ele cria. Ele era um racionalista por excelência e achava que todo o raciocínio que seguisse o método dedutivo levaria a verdades absolutas. Como vimos no post sobre seu argumento ontológico, ele achava que usando somente a razão (a priori) somos capazes de chegar a conclusão que Deus existe.
O argumento ontológico não somente é uma evidência da existência de Deus para alguns, mas é uma prova da genialidade desse filósofo. Mesmo recebendo tantas críticas, filósofos até hoje não conseguem deixá-lo de lado.
A fama do argumento ontológico acaba ocultando as outras várias ideias de Anselmo como, por exemplo,
1. Seu primeiro argumento para a existência de Deus no Monologion onde ele elabora todas as coisas boas que existem e conclui que deve haver uma única fonte que faz com que todas as outras coisas sejam boas. Em outras palavras, deve existir uma forma de nós distinguirmos aquilo que é bom...e isso se deve a existência de um unificador do bem em que e através do que as coisas boas existem: Deus.
2. Sua racionalização da justificação pela morte de Jesus em que ele chega à conclusão lógica (depois de muitos argumentos) que Jesus morreu pela raça humana não porque Deus devia algo ao diabo (justificativa mais comum na época de Anselmo), mas porque nós devíamos algo a Deus.
3. Suas ideias sobre liberdade. Anselmo defende que toda a liberdade é liberdade para algo específico. Sendo assim, apesar de os anjos, por exemplo, não poderem pecar, eles são até mais livres do que seres humanos que podem pecar. Isso porque os anjos não podem perder o tipo de liberdade apropriada (liberdade para a felicidade e liberdade para a justiça) e por isso são mais livres do que aqueles que podem perder.
Existem muitas outras lições fascinantes nos escritos de Anselmo. Leia aquilo que puder dele. Além de ser um homem humilde, ele é poderoso em suas palavras!