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Argumento dos direitos humanos para a existência de Deus

Férias de verão, mais do que nunca na minha vida, são a minha oportunidade de ler o máximo possível a respeito de assuntos que me interessam. Não que eu não leio o que me interessa durante o semestre, mas não leio o que eu quero ler! Então, antes mesmo de começarem as férias, fiz minha lista de livros para ler durante o verão, encomendei pelo Amazon e estão todos na mesinha do meu lado da cama. Farei um post só sobre os livros que escolhi e pretendo fazer um resumo de cada um até o fim das férias.

O livro que terminei de ler hoje me fascinou e queria compartilhar o argumento do autor com vocês aqui no blog já que tem a ver com a nossa série sobre argumentos para a existência de Deus.

O livro chama-se Justice: Rights and Wrongs, de Nicholas Wolterstorff. O Dr. Wolterstorff é um filósofo da religião cristão, na liga de Alvin Plantinga, Brian Leftow, Eleonore Stump, Richard Swinburne e outros. Conheci-o em uma conferência em 2015, mas ainda não tinha lido nenhum de seus livros. O livro é fantástico (apesar de o autor ser um pouco enrolado e muitas vezes exageradamente abstrato) e argumenta uma tese fascinante: a melhor forma de fundamentar direitos humanos é com o conceito do Deus bíblico.

O argumento é gigante (400 páginas!), mas tentarei resumi-lo aqui pra vocês. A primeira parte do livro procura expor os conceitos de justiça que existem hoje e chegar à melhor definição. Ele mostra, através de uma análise de passagens bíblicas, que o melhor conceito de justiça tem a ver com direitos inerentes. Em outras palavras, a ideia de direitos humanos, em vez de ser uma invenção moderna, é bíblica pois a Bíblia enfatiza o valor e dignidade inerente em cada ser humano (dado por Deus), e a partir desse valor inerente é que temos uma noção do que é justo e o que é injusto para cada um. Ele passa um bom tempo contrastando essa visão bíblica com a visão utilitarista e a kantiana, e no final das contas chega a conclusão que esses conceitos de justiça são falhos e incompletos. Sua conclusão é de que foi a cosmovisão judaico-cristã que deu origem à ideia de direitos humanos inerentes e esta é a melhor forma de entender o que é justiça.

Tendo estabelecido a origem da ideia de direitos humanos inerentes, a parte principal do livro é quando Wolterstorff coloca diante de seus leitores sua teoria de qual o fundamento para a ideia de direitos humanos inerentes. Ele reconhece que muitos filósofos seculares já tentaram criar teorias para o fundamento e ele os divide em dois grupos: (1) aqueles que fundamentam os direitos humanos nas capacidades racionais do ser humano e (2) aqueles que fundamentam direitos humanos na dignidade humana. Depois de muita argumentação, novamente Wolterstorff mostra que essas teorias são insuficientes para dar uma teoria daquilo que entendemos como direitos humanos hoje.

No final das contas, a teoria do fundamento para direitos humanos inerentes de Wolterstorff é que o valor e dignidade do ser humano provém de serem o objeto do amor de Deus. Deus ama seres humanos não por causa de alguma capacidade especial que tenham, nem por sua função no planeta terra. Apenas esse amor é capaz de conferir valor e dignidade a todos os seres humanos (algo que teorias seculares não conseguem fazer já que acabam excluindo aqueles seres humanos que não tem certas capacidades racionais). Uma analogia interessante que ele usa para exemplificar esse tipo de "valor por afinidade" é a de uma rainha que tem uma melhor amiga "normal". Por ser amiga da rainha, essa pessoa adquire um valor por afinidade, simplesmente por ter um certo reconhecimento por parte de alguém importante. Essa pessoa será tratada pelos outros de forma diferente, com mais privilégios, e terá portanto, um valor maior por ser amada por alguém poderoso o suficiente para conferir esse valor.

Seria muito difícil (e entediante) expor todo o argumento do livro nesse post, mas creio que deu para dar uma palhinha. A análise dele do entendimento contemporâneo de direitos humanos é interessantíssima e minha primeira exposição a esse tipo de argumento para a existência de Deus (apesar de Wolterstorff mesmo não enfatizar uma motivação apologética para o argumento).

Recomendo a leitura para aqueles que lêem inglês!

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