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O argumento moral para a existência de Deus

Exatamente um mês sem escrever um post por aqui...que feio.

Para compensar, vou postar a respeito do meu argumento preferido para a existência de Deus: o argumento moral. Foi quando entrei em contato com materiais a respeito deste argumento que tive certeza que queria estudar filosofia moral para o resto da minha vida acadêmica. Hoje, apesar de não me aprofundar mais neste argumento faz algum tempo, continuo trabalhando e pesquisando dentro do terreno da filosofia moral: qual a diferença essencial entre o certo e o errado? Qual o fundamento (ou fundamentos) da moralidade humana? O que é altruísmo e seria ele um fenômeno exclusivamente humano? Essas são algumas das perguntas trabalhadas na área da metaética — justamente a minha especialização.

Não entendo exatamente a fonte desse fascínio por moralidade. Quem sabe porque sempre fui a certinha da família. ;)

O argumento moral para a existência de Deus pode tomar diversas formas, mas todos se baseiam explicitamente em nossos instintos morais. Que instintos são esses?

São os instintos que surgem quando você assiste o noticiário ou ouve de um amigo sobre alguma atrocidade moral: um assassinato, um sequestro, estupro, roubo ou genocídio. Se ao ouvir as atrocidades cometidas pelo ditador Pol Pot no Camboja ao matar mais de dois milhões de pessoas inocentes suas entranhas não se revirarem, quem sabe você não entenda de que instintos morais eu estou falando. Mas se você é uma pessoa relativamente normal (e não um psicopata), ver ou ouvir falar de atos imorais fazem com que seu cérebro despare imediatamente um aviso "Isso é errado!"

A partir desse instinto moral é que a maioria dos argumentos filosóficos tem sua mola propulsora. Se existem atos ou proposições que nós consideramos total e absolutamente errados, existem também aqueles que nós consideramos corretos ou bons. Ou seja, temos um conceito relativamente claro da distinção entre o bom e o ruim, o certo e o errado. Na filosofia isso é chamado de moralidade objetiva. Dizer que existe moralidade objetiva é o mesmo que dizer que existem coisas que são certas e erradas independente da opinião humana. Tão certo como esse computador que está na minha frente existe mesmo que eu pense que ele não existe, sequestrar e matar uma criança é errado mesmo que a minha tia ou meu vizinho ache diferente.

A moralidade objetiva é a ideia que tenta combater a moralidade subjetiva que, obviamente, é aquela que diz que o certo e errado depende da subjetividade humana. Ou seja, eu posso achar que um ato moral é errado ao mesmo tempo que outra pessoa pode achar que é certo. Teremos mais ocasiões para entrar em detalhes a respeito do subjetivismo, mas por ora essa definição terá que servir.

Do pressuposto que nossos intintos morais nos levam à moralidade objetiva, um dos argumentos morais para a existência de Deus mais famosos é o seguinte:

1. Se Deus não existisse, os valores e as obrigações morais objetivas não existiriam.

2. Os valores e as obrigações morais realmente existem.

3. Portanto, Deus existe.

A primeira premissa pode parecer confusa, mas é basicamente o que a maioria dos filósofos (teístas e ateístas — alguns dos mais famosos são Bertrand Russell, Friedrich Nietzsche, e Jean Paul Sartre) acreditaram ou acreditam na área da filosofia moral. De acordo com esses filósofos, seria dificílimo achar uma explicação para a moralidade objetiva sem que houvesse um ser absoluto que fosse o fundamento dessa moralidade. Se somos frutos do naturalismo (evolução ou qualquer outra teoria naturalista), não existe nada "fora de nós" que pode suprir a necessidade de um fundamento objetivo para a ética. Como poderia-se pensar que valor moral pudesse surgir de algo sem valor nenhum como a natureza?

J. L. Mackie, um famoso filósofo ateu da década passada, escreveu: "Propriedades morais constituem um conjunto tão estranho de propriedades e relações que seria muito improvável que surgissem no processo ordinário de eventos sem um deus todo poderoso para criá-los."

Richard Dawkins, o neo-ateu cientista mais famoso das últimas décadas, também escreveu que o universo que é "apenas eléctrons e genes egoístas" significaria que "no fundo, não é design, nenhum propósito, nem bem ou mal, nada além de cega e impiedosa indiferença."

Existem muitos outros pontos a desenvolver sobre esse argumento e é por isso que este irá se delongar por mais alguns (não sei quantos) posts. Nesse meio tempo, fiquem na companhia da queridíssima Mafalda.

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