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Al-Ghazali -- o estraga-prazeres dos aristotelianos

Estou empolgada para recomeçar nossa tragetória histórica pelos filósofos que tiveram uma influência sobre o estudo da filosofia da religião.

*Na verdade, boa parte dessa empolgação vem pelo anseio de chegar logo em Tomás de Aquino! ;)*

Na última vez, analisamos a influência de Avicena até mesmo na existência de traduções dos escritos de Aristóteles hoje. Hoje, veremos um pouco a respeito do gigante da filosofia islâmica: Al-Ghazali.

Al-Ghazali (1056-1111) foi um filósofo persa que foi extremamente influente em sua época e é até hoje entre muçulmanos Sunni! Pode-se compará-lo àqueles cristãos que achavam que a filosofia grega não tinha nada a acrescentar à pureza da fé e que, na verdade, essa filosofia era perigosa (como Tertuliano, que estudamos neste post). Só pra vocês terem noção, a obra mais influente que ele escreveu se chama "A Destruição dos Filósofos" (também traduzido como "A Incoerência dos Filósofos").

Ai.

A realidade é que Al-Ghazali curtia pensamentos filosóficos, mas tinha birra com a filosofia Aristotélica (ou pelo menos com a forma como os filósofos muçulmanos estavam a utilizando). Nesse livro, ele critica Avicena e outros como ele que se utilizavam de filosofia Aristotélica para entender doutrinas metafísicas do Alcorão, dizendo que muitas das premissas básicas de argumentos aristotélicos não tinham fundamento na razão. A crítica é intelectualmente rigorosa e muito filosófica. Ahem. Na verdade, Al-Ghazali acreditava que a lógica era extremamente útil, mas que, em última instância, não provava qualquer coisa metafísica. Tentar fazê-lo, de acordo com Al-Ghazali, causa descrença e heresia.

Dentre suas críticas a Avicena, por exemplo, está a ideia de causalidade. Se você se lembra do nosso post sobre Avicena, ele cria que a cadeia de causa e efeito flui diretamente da natureza de Deus por necessidade racional. Al-Ghazali notou que isso impossibilitaria milagres de acontecerem. Como milagres só acontecem quando Deus faz com que algo que está fora do curso natural de causa e efeito aconteça, esse curso natural não pode acontecer necessariamente! Muito semelhante às ideias posteriores de Hume, Al-Ghazali disse que a simples observação das causas seguidas de efeitos (repetidas vezes) não garante que essas causas e efeitos sempre ocorrerão no futuro. Portanto, Deus pode fazer com que qualquer evento seja seguido do que ele bem entende. (claro que Hume usa esse argumento por outros motivos!)

Outra crítica interessante que Al-Ghazali faz aos aristotelianos é quanto a eternalidade do universo. Aristóteles, como muitos de vocês sabem, defendia que o universo nunca teve início e nunca terá fim. Isso porque ele precisava dar uma explicação para a existência de todas as coisas não ter sido "do nada." O problema foi que muitos seguidores de Aristóteles (incluindo muitos cristãos e muçulmanos) aceitaram essa ideia, o que entrava em conflito com a doutrina da criação que está presente tanto na Bíblia quanto no Alcorão. É claro que Al-Ghazali não tem qualquer paciência com essa ideia e desenvolve uma resposta filosófica para a impossibilidade da eternidade do universo.

Quer ler esse livro fascinante? Infelizmente, não achei a versão em português, mas existem diversas versões em inglês.

Bons estudos!

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