Como construir um bom argumento - Parte 3
Um novo mês começou e com ele a possibilidade de fazer novas estratégias de vida. Se você quiser a minha humilde opinião, saber argumentar bem seria uma delas!
Já vimos na parte 1 e parte 2 como evitar algumas das falácias mais comuns em argumentos. É incrível como você começa a percebê-las nitidamente a partir do momento em que você está familiarizado com elas. Espero que isso tenha acontecido com vocês.
Mas agora chega de falar como não argumentar. Vamos falar sobre como fazê-lo bem!
Bom, vamos começar do bem bem básico e seguir dali.
Primeiramente, todo o argumento é constituído de dois componentes: premissas e uma conclusão.
As premissas são afirmações (ou negações) que levarão até sua conclusão. Essas premissas são aquelas coisas que você sabe que são verdade. Por exemplo, vamos dizer que eu quero saber se o meu marido já chegou em casa:
Premissa 1: Se a porta estiver aberta, meu marido está em casa.
Premissa 2: A porta está aberta.
Você pode pensar, "poxa vida, Marina, eu não fico pensando desse jeito! Imagina se para tudo o que acontece na minha vida eu ficasse pensando 'premissa 1, premissa 2, etc'!!"
Eu sei...eu sei. Vamos começar com exemplos bem bobinhos agora para você pegar a ideia.
Voltando ao exemplo, o que está faltando agora?? Isso mesmo! Está faltando uma conclusão para este argumento. A partir do momento em que você tem pelo menos duas premissas e uma conclusão, você tem um argumento lógico. Por que lógico? Porque (de preferência) a sua conclusão é deduzida de forma válida das premissas:
1. Se a porta estiver aberta, meu marido está em casa.
2. A porta está aberta.
Portanto, meu marido está em casa.
Como você pode perceber, nós construímos premissas e conclusões o tempo todo. Até mesmo quando o fazemos automaticamente. Então aqui vai o primeiro segredo para um bom argumento:
Dica 1: pense deliberadamente em seu argumento antes de expressá-lo. Não fale ou escreva qualquer argumento, pense antes!
Agora, você pode estar se perguntando: no que eu devo pensar? Quais são os passos para eu saber (antes de falar) que estou dando um bom argumento.
Aqui vem a parte mais importante.
Existem duas coisas em que você deve pensar antes de expressar o seu argumento.
PRIMEIRO: As minhas premissas são verdadeiras?
Se as suas premissas (as afirmações que levam a uma conclusão) não forem verdadeiras, ou pelo menos muito prováveis, o seu argumento já é péssimo! Imagine que eu fizesse o seguinte argumento:
1. Alguns porcos tem asas.
2. Todo o animal que tem asas pode voar.
Portanto, alguns porcos podem voar.
Bom, nem preciso dizer nada né? Duas premissas erradas só podem levar a uma conclusão falsa!
E atenção! Até mesmo uma conclusão verdadeira pode ser derivada de premissas falsas!
1. Todas as baleias são mamíferos.
2. Shamu é um mamífero.
Portanto, Shamu é uma baleia.
Esse tipo de argumento inválido é mais difícil de identificar, porque a conclusão é verdadeira. Mas mesmo assim, a conclusão não pode ser derivada das premissas. Porquê? Porque eu poderia trocar a conclusão por:
Shamu é um tigre.
A premissa só disse que Shamu é um mamífero, não disse qual. Baleias não são os únicos mamíferos entre os animais!
SEGUNDO: A minha conclusão de fato pode ser derivada das minhas premissas?
Na filosofia lógica, se todas as premissas são verdadeiras e a conclusão é derivada corretamente das premissas, esse argumento é chamado de um argumento válido. Se a conclusão não pode ser derivada das premissas, é um argumento inválido. Todas as falácias que comentamos nos outros posts eram falácias porque faziam com que o argumento fosse inválido. Veja esse exemplo:
1. Uma boa universidade deve ter uma boa biblioteca.
2. A UFRGS tem uma boa biblioteca.
Portanto, a UFRGS é uma boa universidade.
Qual o problema com esse argumento? A conclusão não pode ser derivada dessas premissas! O que faz uma universidade ser boa não é somente o fato de ter uma boa biblioteca. Existem muitos outros fatores! Mas, se o argumento fosse modificado assim:
1. Uma boa universidade deve ter uma boa biblioteca.
2. A UFRGS é uma boa universidade.
Portanto, a UFRGS tem uma boa biblioteca.
Este argumento, diferente do anterior, é válido!
Existem inúmeras regras para avaliar se uma conclusão pode ser derivada de suas premissas e elas são um pouco complicadas para colocarmos de forma resumida e fácil aqui. Mas, para isso que serve a minha dica número 1. Se você parar, respirar, e pensar bem quais são as premissas e a conclusão do seu argumento, você vai perceber se o seu argumento é válido ou não.
Algumas vezes, as emoções podem nos cegar e é por isso que alguém levado pelas emoções dificilmente conseguirá dar um bom argumento.
Por isso:
Dica 2: Tome bastante chá de camomila e você ganhará quase todos os argumentos (usando o restante do post também, é claro).
Eu, como não gosto de chá, vou ficar nos exercícios de respiração mesmo.
Leia mais:
QUALQUER livro sobre lógica formal. Prometo que você irá se divertir.